Nota do Editor: Juízes difíceis. Este texto da Melissa Santos, autora do blog Manual do Advogado, é importante complemento ao Plano de Ação em Audiência: Como Fazer a Sua Primeira Audiência Como um Advogado Experiente, por tratar de um aspecto do processo que pode ser especialmente problemático na audiência judicial: juízes difíceis.
É claro que pessoas temperamentais não se encontram exclusivamente na Magistratura, mas não dá para negar que juízes difíceis aparecerão no caminho de todo advogado com uma freqüência maior do que a desejada, e você não poderá se livrar deles com a mesma facilidade com que você dispensaria um cliente indesejado, não é mesmo?
Por isso, este post traz algumas dicas práticas para ajudar você a não deixar o temperamento do julgador atrapalhar muito a sua atuação como advogado. E, mais importante do que simplesmente ler o texto e gravar as excelentes sugestões, é refletir se elas se aplicam à sua personalidade. Por exemplo, ao lerem a terceira dica, o Francisco e o Gustavo, fundadores do Advogado no Controle, disseram preferir encarar o juiz e mostrar que não estão intimidados, pois isso lhes dá mais segurança sobre si mesmos. Já uma advogada amiga e leitora do blog disse concordar com a proposta de não olhar para o juiz, pois prefere manter a concentração no que deve fazer e não quer deixar a emoção atrapalhar.
E você? Concorda com as dicas? Tem alguma para sugerir nos comentários?
Abraço,
Conrado Machado
Com a palavra a Doutora Melissa Santos:
3 Truques para Lidar com Juízes Difíceis
Muitos juízes são educados, atenciosos e eficientes, mas nem todos conduzem a audiência com tranquilidade ou são acessíveis. Todo mundo tem o direito de ter um dia ruim e isso não é problema, mas se o juiz for sempre difícil ou se estiver em um momento mais complicado, você precisará de jogo de cintura para lidar com a situação.
Tem três truques que eu uso quando isso acontece:
1 – Observo:
Eu sempre entro na sala de audiências antes de chegar a minha vez, mesmo quando se trata de um juiz conhecido. Fazendo isso consigo saber quem é o juiz, como trata o advogado, se a pauta está atrasada, o motivo, se o juiz está conduzindo os trabalhos com tranquilidade, se está forçando acordos, etc. É muito importante saber o que esperar, especialmente na Justiça do Trabalho, em que a troca de juízes é muito frequente.
2 – Cumprimento e faço uma conexão com o juiz:
Quando chega a minha audiência, eu sempre cumprimento o juiz com cordialidade (ainda que a pauta esteja super atrasada) e comento algo que me conecte a ele. Algumas vezes comento sobre a audiência anterior, sobre alguma mudança na sala, sobre o próprio processo, sobre o tempo, etc. Pode parecer besteira, mas isso ajuda a desarmar o juiz e a quebrar o ritmo de pensamento dele, que por conta do volume de trabalho, muitas vezes acaba encarando os processos como linha de montagem: acaba um, começa outro.
3 – Não olho para o juiz durante a audiência:
Esse truque tem que ser bem dosado e só uso com aqueles juízes mais impacientes, que ficam toda hora fazendo caras e bocas tentando desestabilizar o advogado. Logo que comecei a advogar, quanto mais o juiz se comportava assim, mais ansiosa e estressada eu ficava, mas a experiência me ensinou a relaxar e a conduzir as audiências com precisão, independentemente de quem fosse o juiz ou a parte contrária. O que eu faço é: olho para a tela do computador, para acompanhar a audiência, olho para as minhas anotações, para a cópia do processo que sempre levo, para as testemunhas e para o advogado da parte contrária. Só olho para o juiz quando necessário e muito brevemente.
Dica bônus:
Mantenha uma postura educada, mas firme. Esteja atento aos atos da audiência e se manifeste sempre que necessário. Não há hierarquia entre advogado e juiz, então desde que você seja respeitoso, pode discordar dele e fazer valer o seu entendimento.
Agora, se o juiz começar a gritar com você, recomendo que aja com calma e faça valer os seus direitos.