Quando começamos o blog Advogado no Controle, em 2015, fomos pioneiros de um mercado ainda pouco explorado.
As preparações para concursos públicos já haviam migrado maciçamente para a Internet vários anos antes, mas, a advocacia não. Eram poucos blogueiros advogados que buscavam escrever para um público que não procurava lições de doutrina. Pouquíssimas pessoas falavam de inteligência prática, habilidades para negócios, técnica profissional e vocação. O conteúdo voltado à advocacia consistia em noticiário jurídico, doutrina e modelos de petições. Os Congressos Digitais se multiplicavam, ainda tentando encontrar o ponto de convergência entre o Novo Código de Processo Civil e marketing para advogados.
Evidentemente, os profissionais do Direito não ficariam alheios ao gigante movimento brasileiro do empreendedorismo digital, inaugurado por grandes profissionais como Érico Rocha, Conrado Adolpho, Rafael Rez, dentre outros, e democratizado por empresas como a Resultados Digitais.
Porém, o que essas pessoas estavam fazendo e o que elas estavam dizendo ainda era ignorado pela grande maioria dos advogados. O Advogado no Controle foi concebido considerando essa lacuna no mercado. Não estávamos inventando a roda. Estávamos divulgando certas ideias que, na verdade, esses grandes nomes também não estavam inventando, mas atualizando para um novo cenário tecnológico.
Essa primeira etapa da jornada do Advogado no Controle alcançou seu clímax com o 1º CIA – Congresso de Inovação na Advocacia, pouco depois de nossa presença na Fenalaw.
No CIA, nós já víamos em germe os temas que necessariamente iriam dominar a adaptação da advocacia à Era Digital: visão de negócios e espírito empreendedor, criatividade para adaptação à realidade, marketing digital e reforma dos modelos tradicionais de escritório e espírito colaborativo.
Porém, esse momento praticamente se encerrou em 2016.
A realidade é que nós ainda estávamos em início de carreira. E tínhamos tempo para a Internet.
Nos anos seguintes, enquanto o fundador Conrado foi para o Reino Unido, patrocinado pelo governo Britânico, eu e o fundador Gustavo ficamos no Brasil, mas testando na prática e refinando no dia a dia do CFH Advocacia aquelas ideias – imemoriais e inescapáveis, e talvez por isso mesmo esquecidas – que são a raiz do Advogado no Controle. Afinal de contas, de que serviriam todos os posts se nós não estivéssemos vivendo aquilo?
Nós nunca abandonamos por completo o blog, mas, passamos a ser principalmente espectadores de um movimento esperado, que foi denunciado ainda em 2016 pelo Ícaro de Carvalho em relação ao empreendedorismo digital: a grande onda dos falsos mestres da Internet – ou, como ele chamou, do empreendedorismo de palco.
Enquanto em outros mercados essa onda já havia estourado em 2016, foi nesses últimos 5 anos, que os advogados passaram a intensificar sua presença digital. Agora, a massa está nas redes sociais. Um número inabarcável de advogados apresentando infindáveis histórias de sucesso, suas inumeráveis vitórias, obtidas com roupas caras e comemoradas com jantares finos, compartilhadas aos seus milhares de seguidores.
Finalmente se desenvolveu, para a advocacia, a “indústria de falsas promessas e de prosperidade barata, que tentará te capturar”, onde os grandes beneficiados são esses mestres da Internet, que lhe ensinarão a obter rapidamente sucesso em algo que eles próprios não tiveram sucesso.
A era dos blogueiros com OAB e o futuro da advocacia
Quando ideias verdadeiras – e que têm impacto real – se tornam opinião pública e circulam de forma generalizada, rapidamente surgem os belos repetidores de chavões e lugares comuns. Aquelas pessoas de boa aparência, com capacidade de causar um efeito emocional. Mas que não resistiriam ao exame de sua declaração de imposto de renda. Isso aconteceu com a democratização do empreendedorismo digital. Isso está acontecendo com a advocacia que ocupa a Internet.
A personagem dominante, nesse ambiente, é o blogueiro com OAB. Essa estranha figura que vive para causar inveja e provocar desejo, usa roupa de night, cujo palavreado varia entre pastor pentecostal e ministro do Supremo Tribunal Federal, e tem muito, mas muito tempo para ficar na Internet. Eles tem muito tempo sobrando. Mesmo.
E você acredita neles. Confunde sucesso com estourar os limites do cartão de crédito em produtos da Apple, roupas de marca e viagens para “produzir conteúdo”. Então, você torra milhares de reais em uma imersão que é a oportunidade única para dominar o marketing para advogados, outros milhares naquele produto com a receita infalível para empreender na advocacia, e mais algum dinheiro – que você não deveria gastar – naquele curso que vai ensinar tudo sobre algum nicho em que você estará livre da concorrência.
Não é que eles estejam enganando deliberadamente. Mas eles não estão falando da vida real. Da advocacia real.
Eles não são o futuro da advocacia na Internet.
Há pessoas de verdade por aí que estão fazendo a real migração para a Era Digital de uma profissão milenar – e que, por isso mesmo, não perderá sua identidade com as inovações tecnológicas. Eles entendem que a única alternativa da advocacia é não perder a sua identidade como profissão superior. O que está fora disso pode até render uns trocados durante algum tempo, mas logo será feito melhor e mais rápido por um computador ou mais barato por um técnico.
Você não estará seguro em nenhum caminho que consista em aprender o que milhares de pessoas são capazes de fazer – como, por exemplo, ser um manequim ostentando boa aparência e bom mocismo, publicando aquelas fotos estrategicamente batidas e esses posts com frases bonitas ou Cinco Dicas Imperdíveis.
Nenhum homem, em toda a história, esteve seguro aí, onde ele é substituível. O único caminho inteligente sempre foi o desenvolvimento de sua circunstância particular, da sua personalidade. Não a busca do próprio ego, mas do Eu real. Com Internet ou sem ela.