Antes de passar a palavra à Maria Olívia Machado, da Thelema Coaching para Advogados, para falar sobre desatenção, descuido e ineficiência no trabalho do advogado, faço um breve prólogo ao tema fundamental da gestão de equipe.
Nós do Advogado no Controle enfocamos bastante o indivíduo. Mas devemos alertá-lo: não é possível ir muito longe na carreira sem unir forças com outras pessoas. Em nosso escritório, conta-se que um advogado consegue cuidar de no máximo 200 processos. Parece um número alto, mas esse estoque é facilmente alcançado com um Judiciário moroso como o brasileiro. Isso sem contar que alguns processos mais complexos – ou clientes mais complicados – dão dez ou vinte vezes mais trabalho.
Isso não significa que você precisará montar uma banca com 200 advogados. Significa que, em algum momento, você precisará de um time – ainda que esse time seja pequeno.
Porque quando você alcançar a sua carga máxima de trabalho, precisará delegar funções (a Olívia tratou disso em outro texto seu, aqui). Se você já possui um sócio, esse é o começo. Uma secretária ou um estagiário também fazem parte do time. Os parceiros para os quais você repassa causas de outras áreas de atuação também.
Mas existe um membro da equipe que podemos acabar desconsiderando. E ele merece bastante atenção. Talvez você saiba quem é. No final do texto conversamos a respeito. Por isso, peço que você leia com atenção esse texto fantástico da Maria Olívia. Nos vemos novamente lá embaixo.
Passo para a Olívia.
Desatenção, Descuido, Ineficiência do Advogado no Trabalho – Como Lidar?
Muitos clientes têm me perguntado como lidar com pessoas que não conseguem desenvolver um bom trabalho, ou seja, realizam tarefas de forma descuidada ou preguiçosa, entregam peças cheias de erros ou têm atitudes em que não demostram nenhuma consideração com as metas e objetivos da equipe.
Um trabalho mal feito pode prejudicar a carreira de uma pessoa, o moral de uma equipe e até mesmo o sucesso de uma empresa ou escritório de advocacia. Portanto, é importante abordar estas atitudes de membros de um time o quanto antes, buscando-se evitar uma contaminação e corrigir este erro.
Neste artigo, vamos explorar o que você gestor pode fazer para ajudar as pessoas a superar esta tendência.
Antes de mais nada, é importante entender as razões de isso estar acontecendo. O colaborador pode não estar conseguindo administrar bem o seu tempo; pode não ter foco no que está fazendo, pulando de atividade em atividade, gerando falta de atenção; pode, ainda, estar procrastinando tarefas e deixando-as para última hora, não sendo possível fazer uma revisão do seu trabalho, a fim de corrigi-lo e melhorá-lo; ou a causa disso pode ser mesmo a falta de preparo ou de ambição da pessoa em querer se desenvolver, sendo assim, não se preocupa com a qualidade daquilo que faz.
E como lidar com isso?
Abaixo, enumeramos algumas estratégias para você encorajar os membros da equipe a evitar erros por descuido, desenvolver bons hábitos e ter orgulho do seu trabalho.
1. Avalie as Suas Percepções
Atente-se em relação ao seu julgamento sobre o trabalho de um membro da equipe que você acredita estar produzindo mal. Quais são os critérios objetivos que te fazem dizer que o trabalho está ruim? Não poderia ser que as suas expectativas em relação a ele estão desproporcionalmente altas? Você lhe deu tempo suficiente para completar suas tarefas no padrão que deseja? E será que esta pessoa poderia estar com este baixo desempenho, porque a carga de trabalho está demasiadamente pesada?
Se você é perfeccionista, é provável que espere perfeição de todos com quem trabalha. Há um artigo sobre o qual tratamos da diferença da perfeição e da busca pela excelência. Vale à pena ler, de modo que você não defina metas irreais para si ou para os membros de sua equipe.
2. Aborde o Seu Colaborador
Existe a possibilidade do advogado estar subestimando a importância dos seus erros ou mesmo não estar ciente de os estar cometendo.
Chame-o em sua sala. Converse com ele em particular. Mencione que você tem notado um declínio na qualidade do trabalho. Dê alguns exemplos específicos para que a pessoa entenda e pergunte a ela o que está ocorrendo, se está acontecendo algum problema.
Pode ocorrer também que advogado não perceba a importância daquilo que está lhe sendo demandado. Neste caso, vale a pena conversar sobre isso, visto que quando alguém compreende o significado por detrás daquilo que faz, pode se motivar a melhorar.
3. Fique Atento Para Dar Feedbacks
É importante conversar com o seu colaborador, tão logo o erro apareça. Neste aspecto, vale a pena ler o nosso texto sobre como dar feedback, a fim de que você faça da maneira correta.
Não se deve esquecer também de elogiar e pontuar mudanças positivas, pois isso ajuda no desenvolvimento da autoconfiança e da motivação das pessoas e faz com que ela continue melhorando.
4. Identifique Possibilidades de Treinamento
Se a qualidade do trabalho dessa pessoa não melhorar dentro de alguns dias ou semanas, o próximo passo é identificar quais são as lacunas que ela pode ter. É uma questão de conhecimento técnico? Alguma competência comportamental? Converse com o advogado para entender o que ele pensa e que pode estar causando esse problema?
Escute atentamente para que perceba se isto está sendo resultado de pressões externas ou de problemas pessoais. Há outras coisas que você pode fazer para ajudá-lo?
5. Estabeleça Listas de Afazeres
Incentive que o advogado comece a usar uma lista diária de tarefas em relação ao que precisa fazer, a fim de garantir que não se perca no caminho.
Este tipo de lista ajuda, especialmente, pessoas que tem problema com gestão de tempo, de priorização de tarefas, de procrastinação e que têm o hábito de multitarefar. Encoraje a pessoa a colocar, ao final da lista, o resultado que quer atingir ao final do dia. Isso o estimula a se manter focado e aumenta a motivação.
6. Coloque Esta Pessoa Para Trabalhar com Alguém que Tenha Uma Boa Performance
Outra maneira interessante é coloca-lo para trabalhar com alguém que atinge os seus padrões de qualidade e desempenho ou com um mentor. Através desta troca durante vários dias ou semanas, ela será capaz de perceber o que é um trabalho de boa qualidade e os benefícios de desenvolvê-lo bem.
7. Realocação
Se nada disso está funcionando, mas você ainda quer reter esta pessoa, pode lhe dar outras atribuições ou transferi-la para uma outra área ou posição. Observe quais são os pontos fortes deste colaborador. Ele não é bom em escrever peças, mas é excelente em realizar acordos ou audiência. Não seria interessante para você manter esta pessoa no seu time nesta posição? Analise esta possibilidade também.
8. Demissão
Se, por fim, nada mais der certo, está na hora de mandar a pessoa partir. Vale lembrar que este tipo de acontecimento, sendo recorrente, pode gerar riscos à saúde e segurança do seu escritório ou departamento jurídico e, acima de tudo, à reputação da organização. Não permita chegar neste ponto.
Finalmente, não desista de um colaborador num primeiro momento. Os resultados de treinar uma pessoa que não está performando bem podem ser surpreendentemente bons. Dê chance, faça a sua parte e, certamente, construirá um grande time.
Aqui é o Francisco de novo.
Prestou atenção nas dicas da Olívia? Viu o que ela disse no final?
Faça a sua parte.
Eu lhe pergunto: quantas dessas estratégias você está aplicando para você mesmo?
Talvez você tenha adivinhado (até que era óbvio). É você mesmo o membro da equipe que muitas vezes desconsideramos, mas que merece muita atenção.
Muitas vezes, nós mesmos não estamos desenvolvendo um bom trabalho. É comum nem sequer tomarmos consciência disso. Ou, quando percebemos, escondermos o problema ao invés de seguir a lição do imperador Marco Aurélio: “O aspirante a sábio não deve fugir do mal, mas habituar-se a olhá-lo de frente”.
Você está tendo consideração com as suas metas e com os seus objetivos?
Talvez você já saiba que não. Que você mesmo menospreza suas metas e seus objetivos. Isso é um problema. Mas siga a lição da Maria Olívia: avalie sua percepção. Essas metas e objetivos são realistas? Lembre-se sempre da lição de Tim Ferriss: a energia e o interesse são cíclicos. Talvez você só esteja precisando de boas férias.
Portanto, converse consigo mesmo. Medite a sua situação. Responda: o que eu preciso mudar em mim mesmo? Preste atenção nos feedbacks de outras pessoas. Avalie se você não precisa adquirir algum conhecimento extra. Estabeleça objetivos, liste tarefas e faça acontecer. Cerque-se de pessoas inspiradoras.
Se nada funcionar, pense seriamente na sua rotina, no seu trabalho, na sua vida, nos seus planos. Eu tenho talento para isso? Eu fui moldado para isso? Afinal de contas, realizar uma vocação exige muito trabalho, muito esforço, muito suor e lágrimas. Mas se os anos se passaram e você está simplesmente infeliz, talvez seja a hora de correr atrás da mudança. Demita-se.
Mas essa é uma decisão drástica. Lembre-se do que a Olívia disse: não desista em um primeiro momento. Na realidade, não desista nunca de você mesmo.
Esteja sempre No Controle.
E quando lidar com os outros membros da sua equipe, lembre-se sempre: As palavras movem. Os exemplos arremessam.