Como um Tímido Estudante de Direito Superou o Medo de Falar em Público

Nota do Editor: Medo de falar em público. Uma forma bastante eficaz de se aprender é através da experiência compartilhada, pois nela observamos como uma pessoa real lidou com questões e problemas que também nos desafiam, mas parecem difíceis de ser transpostos de posse tão somente de conhecimentos teóricos.

Aliás, quando o Francisco, o Gustavo e eu concebemos o Advogado no Controle foi com o objetivo de suprir a lacuna observada no vasto mercado jurídico online, em que abundam cursos preparatórios para concursos públicos, para o exame de Ordem, além de diversos professores gabaritados e especialistas em determinados ramos do Direito, mas não havia quase nada voltado para ajudar os advogados a enfrentar situações práticas do dia-a-dia da profissão.

Por isso, a maioria dos textos aqui publicados tem esse caráter de conversa entre amigos, em que não se está propriamente “ensinando”, mas confidenciando fatos, acertos, erros, enfim, lições da vida profissonal que possam ser úteis também a quem os lê.

E o texto de estreia do colega e amigo advogado Victor Rorato não foge dessa caracterísctica do Advogado no Controle. O tema é o medo de falar em público, já tratado AQUI, e o relato é bem pessoal e franco. Boa leitura!

Um abraço,

Conrado Machado

Como um Tímido Estudante de Direito Superou o Medo de Falar em Público.

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Uma simples busca na internet pelas palavras “medo de falar em público morte” revela: variadas pesquisas chegaram à conclusão de que o medo de falar em público supera o medo da morte. Existem inúmeros cursos, táticas, métodos, macetes e gurus para superar limitações diante de um auditório; nesse texto contarei como foi e como tem sido minha experiência – com a ressalva de que ainda há muito chão pela frente.




De Aluno mais Participativo da Turma a uma Personalidade Retraída pelo Bullying

Como uma espécie de prólogo, vale dizer que sempre fui o aluno que respondia em voz alta quando o professor fazia alguma pergunta à turma. Ocorre que essa história mudou quando, ainda no colégio, deu-se algo cujas consequências se arrastaram por muitos anos: durante o bullying característico dos tempos de escola, volta e meia era tolhido por alguns colegas – repreendido ao responder perguntas.

Resultado: parei de responder da forma como respondia. Surgiu uma espécie de trauma, uma ferida psicológica.

Enfrentar um Grande Medo Sempre Dói

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Não há recomeço. Não há pausa. Não sabemos o fim. Todos os dias é preciso acordar e lutar; acordar e lutar; acordar e lutar. Uma marcha contínua e constante para frente, sem paradas, sem ponto de chegada. Essa é a condição humana. Essa é vida. Aterrorizante? É aterrorizante. E como vencer o medo? Tornando-o absolutamente insignificante diante de valores maiores”. (trecho de “Você é um Guerreiro?“)

Avançando na história, ingressei no curso de direito da UFSC e desde a primeira fase participava de diversos projetos e ajudava a organizar eventos. Entrei na Comissão do Acadêmico de Direito da OAB/SC e estávamos organizando então (2010.2) o 5º CCAD, congresso para mais de 1000 pessoas a ocorrer em um grande centro de convenções de Florianópolis.

Era necessário divulgar: adesivos, cartazes, folders, flyers e passagens em sala. Nessas passagens geralmente cumpria a função de entregar os impressos, até que um dia decidi falar e pedi ao amigo Rodolfo (hoje Dr. Rodolfo, advogado penalista) que ao menos em uma sala invertêssemos as funções.

Entramos na sala, comecei a falar. As informações se embaralhavam em minha mente. Esqueci os nomes dos palestrantes. Repeti três ou quatro vezes o nome de um deles. Comecei a suar. Os olhares de alguns alunos eram como lasers apontados para mim. Enfim, Rodolfo teve de dar uma força no final.

Ao chegar em casa naquele dia, estava diante de uma encruzilhada: deveria decidir se fugia ou enfrentava a questão. Decidi enfrentar e confiar na sabedoria de que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”; alguns diriam que entrei em todas as roubadas que se apresentaram dali para frente – outros que aproveitei todas as oportunidades que se apresentaram dali para frente.

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Aceitar os Desafios ao Invés de Fugir Deles

Foi então que comecei a me meter em várias roubadas para me forçar a abandonar a timidez.

Quem quer ser representante de turma? – Eu!

Temos que fazer passagem em sala para divulgar semana jurídica/congresso/palestra/festa/grupo de estudo/Comissão da OAB/qualquer coisa. Quem vai? – Manda pra mim.

Chapa do Centro Acadêmico, DCE? – Tô dentro.

E assim, me envolvendo em tudo quanto é atividade que exigisse de mim falar diante de outras pessoas, comecei a me “destravar” aos poucos.

Não Adianta Nada Praticar e Praticar

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Poderia encerrar o texto por aqui e aconselhar aos leitores que pratiquem, que enfrentem suas limitações e persistam – mas não estaria sendo honesto com o propósito de contar toda a jornada. Se pensarem bem, caso a prática reiterada por si só resolvesse as coisas, aquele professor que dá aula há décadas e há décadas comete os mesmos deslizes simplesmente não deveria existir.

Qual a principal diferença entre o time de futebol amador do seu bairro e um time profissional? Existem muitas, no entanto a principal é o treinamento: método, preparo físico, disciplina, melhoramento constante.

Nesse sentido, após descobrir do mundo anglo-saxão a tradição dos debates competitivos e conhecer, junto com outras pessoas, uma experiência de sucesso realizada na Universidade Federal do Ceará, fundamos a Sociedade de Debates da UFSC. Em suma, um espaço para exercitar e aprimorar a habilidade de comunicação oral com o público – cujos detalhes demandariam um texto autônomo.

Ouvir Críticas e Feedbacks é Essencial

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Na verdade, o real “pulo do gato” não é a Sociedade de Debates em si, mas sim algo que ocorre dentro dela – e que também pode ocorrer a você, leitor. O segredo está na abertura para ouvir críticas/feedbacks; poderia dizer sem receio de errar que a busca ávida por um retorno sincero do público leva rapidamente ao melhoramento.

Você precisa querer descobrir porque perdeu, porque as coisas deram errado. Suas derrotas são sua principal fonte de aprendizado. Aprenda com elas para não repetir os mesmos erros”. (trecho de “O que Você Precisa Saber Sobre Sorte na Advocacia“)

Conheça o seu Auditório

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Perelman, um dos grandes na área da retórica, dava especial atenção ao auditório. Se pensarem bem, ao final é o que realmente importa. O objetivo de falar em público é comunicar, passar uma mensagem – nesse sentido, para realizar o objetivo é preciso que o destinatário a compreenda.

Para assegurar-se que o destinatário compreenderá a mensagem é preciso conhecê-lo, saber ao menos algumas informações – do contrário seremos como o arqueiro em noite escura, que atira sem ver o alvo. Quanto melhor se conhece o destinatário, mais iluminado o alvo e maiores as chances de acertar na mosca.

Não é um Final Feliz Porque Ainda não Cheguei ao Fim, mas já Colho Alguns Frutos

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Hoje estou advogando; fundei um escritório e para minha feliz surpresa tenho recebido sucessivos convites para participar de eventos como palestrante, inclusive do 1º Congresso de Inovação na Advocacia – realizado brilhantemente pelos Advogados no Controle que comandam este Blog.

Encerro com duas frases: uma ensinada pelo amigo Daniel Piccoli, que trabalha diretamente no segmento da oratória, e outra de autoria de um dos grandes comunicadores brasileiros.


A grandeza de um homem se mede pela sua capacidade de comunicação” Michel 
Quoist

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Quem não se comunica, se trumbica”
Chacrinha

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E você, como foi a sua experiência ao lidar com a timidez ou com o desafio de falar em público? Você gostaria de compartilhar alguns aprendizados conosco nos comentários abaixo?