“Com o suor do teu rosto comerás o teu pão”.
Eva acreditara na serpente e convencera Adão a experimentar o fruto proibido. Deus os puniu, expulsando-os do Jardim do Éden. Com a desobediência do casal, os frutos da Árvore da Vida passaram a ser proibidos ao homem e a humanidade passou a ter de suar pela sobrevivência. Suar e sangrar. Lutar.
O que nos impede de aguardar a morte?
Nada. Mas nós não queremos morrer. Nós lutamos pela sobrevivência. Não é uma luta bestial, porque o homem não é como as outras criaturas. Nós não queremos vagar sem rumo. O homem aprendeu sobre o bem e o mal e sabe que existem diversas maneiras de lutar. Qual é a melhor delas?
Você sabe qual é a melhor maneira de lutar?
Sabemos que Adão e Eva sucumbiram por causa de si mesmos. A serpente não os obrigou a comer o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal. Seu inimigo era interno. Seu inimigo foi seu próprio coração.
Realmente, a luta pela sobrevivência tem sua origem dentro de nós. E nosso grande inimigo nessa luta também vem de dentro de nós.
Phobos, o Deus do Medo, é o Senhor da Guerra na mitologia grega.
O Medo.
Você sabe que não estamos vivendo um jogo?
Não há recomeço. Não há pausa. Não sabemos o fim. Todos os dias é preciso acordar e lutar; acordar e lutar; acordar e lutar. Uma marcha contínua e constante para frente, sem paradas, sem ponto de chegada. Essa é a condição humana. Essa é vida. Aterrorizante? É aterrorizante. E como vencer o medo? Tornando-o absolutamente insignificante diante de valores maiores.
Quando perguntado sobre a virtude suprema do guerreiro, o rei espartano Agesilau respondeu: “Desdém pela morte”.
Para um grande guerreiro, a morte não é o pior dos males. Um grande guerreiro não teme a morte. Um grande guerreiro teme a vergonha.
Por isso, quando uma coorte de legionários romanos foi cercada por inimigos em um lugar sem água nem alimentos e ordenaram-lhes que se rendessem, afinal de contas, eles não possuíam comida ou água e não tinham para onde fugir, ou seja, eles não tinham escolha, o comandante romano respondeu sem titubear:
– Nenhuma escolha? Por acaso vocês nos roubaram a escolha de morrer com honra?
A luta pela sobrevivência de um guerreiro não é apenas uma luta contra a morte. Não é apenas uma luta contra inimigos externos. Existem motivos profundos para estarmos lutando a cada dia que nos fazem vencer o medo, que nos fazem lutar com mais força pela nossa integridade.
Onde encontramos esses motivos? Esses motivos são o sentido das nossas vidas. E qual o sentido das nossas vidas? Para Viktor Frankl, aquilo que somente você e mais ninguém pode fazer.
Quem confiou em você? Seus pais, seus irmãos, seus amigos? Somente você pode honrá-los, ninguém mais. Essa é uma missão apenas para você.
Depois de dias atravessando o deserto com seu exército, Alexandre, o Grande, e os homens de suas fileiras estavam sedentos. Um grupo de batedores retornou com um elmo repleto de água. Eles haviam encontrado uma pequena fonte e depois de horas conseguiram recolher um punhado de líquido cristalino. Reverenciosos, entregaram-no a Alexandre. Os milhares de homens pararam, observando seu comandante com o recipiente em suas mãos. Alexandre agradeceu o presente, levantou o capacete cheio de água para que todos pudessem vê-lo e virou-o, derramando a água por completo nas areias do deserto. Imediatamente, a multidão se expandiu em júbilo. Alexandre, o Grande, jamais quebraria a confiança que seus soldados depositaram nele. Ele jamais os abandonaria à própria sorte.
A quem você prometeu nunca abandonar? Sua mulher, seus filhos? Somente você pode amá-los, ninguém mais. Essa é uma luta sua e de mais ninguém.
Portanto, o sentido das nossas vidas está confinado naqueles que depositaram sua confiança em nós e naqueles aos quais destinamos nosso amor? Não. Porque as vidas começam e terminam. Enquanto alguns se vão, outros permanecem.
As mães de Esparta não choravam a morte de seus filhos na guerra, antes falavam para eles voltarem ou com seus escudos, ou em cima deles. Elas não lamentavam a morte de seus filhos guerreiros, porque eles haviam realizado o melhor de si mesmos – e depois da morte deles, ainda cabia a elas dar o melhor de si mesmas.
O sentido das nossas vidas está em nós mesmos e ninguém pode roubá-lo de nós ou nos fará perdê-lo.
O sentido das nossas vidas é realizarmos o melhor de nós mesmos. É sermos o melhor que nós podemos ser.
Essa é a melhor maneira de lutar: Lutar para realizarmos o melhor de nós mesmos. Lutarmos para sermos o melhor que nós podemos ser.
No Bhagavad-Gita, o guerreiro Arjuna é instruído por Krishna (o Deus hindu em forma humana), a aniquilar seus inimigos sem misericórdia. Arjuna possui muito afeto por eles, que conhece de longa data, mas Krishna lhe ordena que mate todos. Os nomes dos inimigos de Arjuna? Cobiça, Inveja, Egoísmo, Falsidade, Covardia.
Mas sermos o melhor que pudermos exige capacidade de resistir às adversidades externas e de superar a resistência que existe dentro de nós. É necessário vontade de continuar lutando, a despeito de se estar comendo o pão que o diabo amassou e de nos sentirmos pequeninos diante dos problemas. É preciso querer a vitória, querer ser grande, querer ser bom.
Sempre um passo a mais. Um passo a mais. Um passo a mais.
A derrota, para o guerreiro, não é engraçada. Como diria o General Patton, um homem que ri da derrota não merece uma cabana no Inferno. Mas podemos rir com o general espartano Dieneces, quando informado que as flechas dos persas, sibilando, cobriam o sol:
– Ótima notícia! Assim lutaremos na sombra e não sob o sol escaldante.
Um guerreiro tem sede de vitória. Todos sonham em ser seus amigos e todos temem ser seu inimigo, como queria Alexandre, o Grande
Então, sejamos guerreiros?
Comecemos mudando aquilo em que você acredita.
Comecemos pelo Ethos do Guerreiro (The Warrior Ethos)
Os seus ideais não definem quem você é, mas definem quem você pode ser. Por isso, cada dia nós devemos batalhar para definir aquilo em que acreditamos e para defender a nossa integridade naquilo que é bom. Como conclui Steven Pressfield, em The Warrior Ethos:
Sejamos, portanto, guerreiros do coração, e alistemos em nossa causa interior as virtudes que adquirimos através de sangue e suor no âmbito do conflito – coragem, paciência, desprendimento, lealdade, fidelidade, autodisciplina, respeito pelos mais velhos, amor aos nossos companheiros (e aos inimigos), perseverança, alegria na adversidade e um senso de humor, ainda que conciso e negro”.
Vivamos o bom combate.
Um post scriptum:
Ethos é o conjunto de costumes, de crenças, de princípios que diferencia uma cultura ou um grupo de pessoas. O Ethos do Guerreiro (The Warrior Ethos) é, portanto, esse conjunto de valores que diferencia os guerreiros das demais pessoas. No mundo moderno, nossas lutas são diferentes daquelas dos espartanos, macedônios e romanos? Realmente, não estamos em lutas sangrentas. Mas a vida é um combate. Principalmente para os advogados, que combatem diariamente nos fóruns em busca de Justiça. Aprender o Ethos do Guerreiro é aprender os valores que devem guiar nossa luta por Justiça. É aprender também os bons hábitos e as boas práticas dos guerreiros que nos fortalecerão nessa batalha. O Advogado no Controle não é um covarde, um amador, tampouco um mercenário. O Advogado no Controle é um guerreiro. Ele possui o Ethos do Guerreiro.