Negligenciar os Quatro Tipos de Dinheiro apresentados por Michael Gerber, Robert Armstrong e Sanford Fisch no livro “The E-Myth Attorney: Why Most Legal Practices Don’t Work and What to do About it” (O Mito do Advogado Empreendedor: Por Que a Maioria Dos Escritórios Não Dão Certo e o Que Fazer a Respeito), é o caminho certo para enfrentar problemas financeiros no seu escritório.
Porém, antes de esmiuçar essa classificação, vale registrar uma dica interessante dos próprios autores:
Não fale dessa diferenciação com o seu contador, pois só vai confundi-lo. Use essas informações para o seu próprio controle e para obter mais clareza sobre as finanças do seu negócio”.
Nunca é demais lembrar também que se nos fiarmos apenas no que aprendemos na faculdade não poderemos ir muito longe no mundo da advocacia.
E isso não diz respeito somente a questões prático-profissionais básicas, como O Modelo Ideal de Petição Inicial, Como Formatá-la da Melhor Maneira Possível e Organizar Adequadamente Seus Anexos ou Como Atuar na Tão Temida Audiência, já tratadas aqui no Blog.
Conforme dito AQUI, é preciso, além do conhecimento técnico, ter uma visão empreendedora do seu escritório, de modo que você encontre sucesso e estabilidade na sua carreira como advogado e, mais do que isso, se realize como pessoa.
Para isso, portanto, é fundamental conhecer os 4 Tipos de Dinheiro que estarão sempre presentes na sua vida profissional, quer você deles tome conhecimento, quer não.
1. Faturamento/Receita Bruta (em inglês: Income)
É o que o advogado ganha pelo serviço prestado. Se você é advogado contratado, o Faturamento é a forma de dinheiro mais importante para se ganhar. Se, por outro lado, você for dono do seu escritório, ou seja, um advogado empreendedor, esse é o tipo de dinheiro menos importante para receber.
É o menos importante porque de nada adianta seu Faturamento ser grande se não sobrar lucro. Se tudo o que você ganha é gasto, você não está ganhando nada para você, mas apenas trabalhando para os outros.
2. Lucro/Receita Líquida (em inglês: Profit)
Lucro é o que sobra da competente prestação de serviço pelo escritório.
Se esse Lucro se deu ocasionalmente, não comemore, pois isso significa que você não está no controle da situação. Contudo, se ele provém de sua bem pensada estratégia, você está no caminho certo, pois agora poderá replicar esse ganho.
É importante ter em mente que o Lucro é o resultado de uma precificação adequada. Digamos que você cobre dois mil reais para cuidar de um processo, mas o cliente é chato e lhe mantém ocupado a cada quinze dias com uma hora de reunião e consultas pelo telefone. E o processo acaba durando 10 anos… Você acha que recebeu para trabalhar? Sim, recebeu: aproximadamente R$ 7,70 por hora de trabalho… Que lucro, hein?!
Lembre-se também que o Lucro alimenta o desenvolvimento do seu escritório, de quatro maneiras:
- Lucro é capital de investimento que alimenta e sustenta o crescimento;
- Lucro gera bônus para recompensar as pessoas pelo trabalho bem-feito;
- Lucro ajuda a cobrir gastos de emergência;
- Lucro recompensa o advogado dono do escritório pelos riscos assumidos.
Sem Lucro, um escritório não pode subsistir nem crescer. O Lucro é o combustível do progresso”.
3. Fluxo (em inglês: Flow)
O Fluxo é o que dinheiro faz em um escritório e não o que ele é. Sua importância é ainda maior do que a do lucro.
Independente do tamanho do seu escritório, se não houver dinheiro em caixa quando você precisar, o seu negócio corre riscos – mesmo que o lucro do mês anterior tenha sido considerável.
Saber onde o dinheiro está agora e onde estará quando você precisar dele é uma tarefa importantíssima tanto para o advogado contratado quanto para o advogado empreendedor”
Em geral, os dois problemas mais comuns em escritórios de advocacia são:
- Problemas de Fluxo de caixa de curto prazo: Você reservou dinheiro para o aluguel e a conta de telefone? Ou distribuiu todo o lucro do mês anterior? Neste mês, se não houver renda suficiente, ou as despesas tiverem um aumento e seu lucro diminuir, como você pagará as contas?;
- Problemas de Fluxo de caixa de longo prazo: Um advogado, em geral, possui capacidade de administrar no máximo 300 processos e essa é uma estimativa alta. Quando você atingir essa cota, o que fará? Será possível contratar uma secretária para facilitar os atendimentos com os clientes? Um advogado para auxiliar no acompanhamento dos casos? Comprar novos móveis ou alugar uma sala maior? Ou porque você cobrou R$ 2.000,00 por processos que irão durar 10 anos, agora está sem reservas financeiras, sem fluxo e sem capacidade ociosa?
Há duas regras essenciais a respeito do Fluxo:
1ª Regra) Enquanto o demonstrativo do faturamento apresenta uma imagem estática do dinheiro, o Fluxo mostra quando esse dinheiro está saindo ou entrando no seu escritório. E é bom que você saiba disso diariamente, até de hora em hora, e não apenas semanalmente ou mensalmente. Você deve ser capaz, inclusive, de prever o Fluxo de caixa.
Não importa quantas pessoas você contrate para cuidar do seu dinheiro, pois enquanto você não mudar seu jeito de pensar a respeito dele você estará sempre com azar. Ninguém pode fazer isso por você”
A respeito da Sorte na Advocacia CLIQUE AQUI.
2ª Regra) A segunda regra diz que o dinheiro raramente se comporta como você espera. Mas você tem o poder de mudar isso, desde que entenda as duas fontes básicas de dinheiro à medida que ele entra e sai do seu escritório:
- Fonte Externa: É o dinheiro que vem de fora do seu escritório sob as formas de “a receber”, “investimentos”, “empréstimos” etc;
- Fonte Interna: São os valores monetários que saem do seu escritório sob as formas de “a pagar”, “taxas”, “capitais de investimento”, “folha de pagamento” etc. Enfim, são os custos associados à obtenção de clientes, entrega dos seus serviços e outros procedimentos necessários à prática profissional.
Apesar de poucos advogados se darem conta, a Fonte Interna, ou seja, os valores monetários que saem do escritório, também é uma importante fonte de dinheiro e, por essa razão, deve ser controlada com o máximo cuidado.
A verdade é que quanto mais controle você tiver sobre as fontes do dinheiro, mais controle você terá sobre o seu Fluxo. E essas fontes se encontram tanto dentro quanto fora do seu escritório”.
4. Patrimônio (em inglês: Equity)
O Patrimônio é o segundo ativo mais valioso que o advogado irá possuir em toda a sua carreira. O primeiro é a sua vida.
A grosso modo, Patrimônio é o valor financeiro atribuído ao seu escritório por um comprador em perspectiva.
Por isso, o seu escritório é o seu produto mais importante – não os seus serviços – porque ele tem o poder de libertar você. Isso mesmo. Uma vez que você venda o seu escritório – desde que você receba o que desejava – você está livre!”
Obviamente, para incrementar o seu Patrimônio e o valor do seu escritório você precisa desenvolver um negócio que funcione: um negócio que gere Faturamento, Lucro, Fluxo de Caixa e Patrimônio.
Para conseguir isso, o seu escritório deve ser projetado para que faça o que deve fazer sistemática e previsivelmente a cada momento”.
O que você venderá no fim das contas são os sistemas operacionais desenvolvidos e o modo de fazer negócios e não a carteira de clientes simplesmente.
O valor do seu Patrimônio é diretamente proporcional à qualidade do funcionamento do seu escritório. E a qualidade desse funcionamento é diretamente proporcional à eficácia dos sistemas que você implementou para o seu escritório funcionar”
Não é tradição no Brasil pensar nisso. A advocacia ainda é vista de forma muito pessoal. Mas, e quando você morrer? Ou, se tragicamente ficar inválido (o que esperamos que nunca aconteça)? É mais provável você simplesmente ficar de saco cheio e querer fazer algo diferente, tirar longas férias, se aposentar ou mudar de cidade.
Seu escritório precisa ser quantificável para ser vendido – ainda que seja para os seus sócios.
Perceba ainda que nada o impede de vender seu escritório para outros advogados que não os seus sócios. Mas, nesse caso, vale alertar novamente, o grande valor agregado estará nos procedimentos internos, fontes de receita etc.
Esses são, portanto, segundo Michael Gerber, Robert Armstrong e Sanford Fisch, os 4 Tipos de Dinheiro que todo advogado precisa saber para não quebrar seu escritório.
Em outro artigo você conhecerá as 6 dicas que os autores de “The E-Myth Attorney: Why Most Legal Practices Don’t Work and What to do About it“ dão para superar o conflito entre o advogado-empregado e o advogado-empreendedor que há dentro de você.
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Um forte abraço!
*obs.: As dicas genéricas dos autores foram por mim extraídas do livro “The E-Myth Attorney: Why Most Legal Practices Don’t Work and What to do About it” e por mim também livremente traduzidas. Porém, os comentários contextualizando-as à realidade brasileira são de autoria do Dr. Francisco Yukio Hayashi, que vive intensamente o dia-a-dia do advogado-empreendedor no Brasil e conhece as nuances desse complexo meio.